Olimpíada é um momento único para o atleta. E fazer cumprir as regras da natação faz parte da competição. Ocorreram muitos problemas de arbitragem e/ou cronometragem na história olímpica. O mais célebre de todos é o problema de cronometragem ocorrido em Barcelona-1992, justo na mais nobre das provas olímpicas, os 100 metros livre masculino. O vídeo (desculpem a qualidade, mas há boas intenções) explica melhor o causo:
https://www.youtube.com/watch?v=5FHlc_7k82c
Ainda tivemos os problemas com o japonês Kosuke Kitajima em Atenas-2004, onde a regra não permitia qualquer golfinhada na filipina de peito, e a filmagem subaquática mostrava claramente que ele dava fortes golfinhadas, não sendo desclassificado em nenhum momento, e outros tantos. Na última Olimpíada houve o caso do dispositivo de partida não acionar, fazendo com que o favorito da prova de 400 livre, o chinês Sun Yang, caísse n’água ainda na fase eliminatória. Obviamente a saída falsa não foi considerada e ele classificou-se, e mais tarde superou o recorde mundial da prova.
Na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, foram poucos os casos envolvendo problemas de arbitragem e cronometragem. Um pequeno problema de cronometragem ocorreu justo nas eliminatórias do 4×200 livre feminino, e justo com a equipe brasileira. O placar estava acusando tempos errados, mas acabou gerando os tempos corretos no resultado final, perdendo uma parcial – é a primeira e única vez que vimos isso nos últimos 8 anos.
Houve um problema na largada dos 400 livre masculino (de novo?), durante as eliminatórias, onde o espanhol Miguel Duran Navia escutou um barulho na arquibancada e acabou caindo n’água, ficando nervoso consigo mesmo porque tinha certeza de que seria desclassificado:
Uma decisão sensata foi tomada e o atleta foi chamado de volta para continuar a prova, já que o barulho externo interferiu – apenas o árbitro geral tem esse poder de decisão nestes tipos de caso.
Uma rápida troca de mãos deixou em dúvida quem assistiu a semifinal dos 100 peito feminino: a americana Lilly King não tocou com as duas mãos simultaneamente na parede, mas esse movimento só pode ser confirmado em câmera lenta e o árbitro da virada se ficou em dúvida, tomou a correta decisão: na dúvida, a vantagem é do atleta.
Este tipo de caso – virada rápida demais onde é difícil de julgar se o atleta realmente tocou – causou uma enorme confusão nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em 2015, com a virada do nado costas para o nado peito de Thiago Pereira na prova de 400 medley (clique aqui para relembrar). E, novamente é bom reafirmar: na dúvida, o atleta tem a vantagem. O árbitro só pode desclassificar se ele tiver certeza de que viu o movimento – ou a falta dele – irregular.
Além desse caso menor, teve um maior: a dupla golfinhada.
Nesta prova, a britânica Chloe Tutton usou e abusou da irregularidade de forma descarada. Mas não foi desclassificada.
Os vídeos de uma prova, submersos ou em VT (reprise), não podem ser utilizados para desclassificar um atleta. O único vídeo utilizado é o da chegada e ele só pode ser utilizado quando ocorre dúvida na cronometragem para definir posição de chegada, nunca uma irregularidade de nado.
Um outro caso no Rio-2016 foi a saída da prova dos 50 livre masculino:
Esta saída não restaria dúvidas: o atleta se movimentou no momento da largada antes do sinal de partida, quando todos estavam imóveis aguardando o sinal, e deveria ter sido desclassificado ao fim da prova, mas não foi. Aqui foi um erro tanto do árbitro de partida quanto do árbitro geral.
Algumas pessoas reclamaram a respeito da chegada totalmente submersa das provas de costas:
O caso da chegada totalmente submersa também é praticamente impossível de confirmar a posição do corpo do atleta na posição que o árbitro está no momento da chegada. A preocupação do árbitro naquele momento é com relação ao toque na parede, e naquele momento, o árbitro também tem que observar se alguma parte do corpo do atleta quebrou a superfície d’água antes do toque. Isso também é difícil de julgar porque a regra do nado costas diz:
SW 6.3 – Alguma parte do nadador tem que quebrar a superfície da água durante o percurso. É permitido ao nadador estar completamente submerso durante a volta, na chegada e por uma distância não maior que 15 metros após a saída e em cada volta.
Então antes de tocar na parede, o atleta está em “percurso” e portanto tem que quebrar a superfície d’água com alguma parte do corpo. Se você já foi atleta, deve saber que ficar totalmente submerso em qualquer momento do nado de costas que não seja logo após a saída e viradas é maléfico porque você perderá velocidade por causa do atrito maior que tem cada vez que você fica mais submerso n’água. Então a lógica seria que o atleta não pensa em submergir todo seu corpo antes do toque final da prova, mas os atletas de elite ainda tentam dar uma forte golfinhada para cima com o objetivo que ganhar preciosos centésimos numa chegada. E esta golfinhada significa que ao menos o pé irá quebrar a superfície d’água.
Fora da piscina, restou a discussão sobre a desclassificação ou não da francesa Aurelie Muller na prova de 10 km feminina em maratonas aquáticas. Ela estava duelando com uma italiana e pela posição que ficou no fim da prova, próximo ao pórtico de chegada, ela subiu na italiana, com ou sem intenção, mas a regra é clara: não pode haver contato físico entre os nadadores em que prejudique o outro atleta.
https://vimeo.com/178923175