Aprovado em 2013 na Assembléia Geral da FINA, testado durante o ano de 2014 e implantado oficialmente em 2015, o dispositivo auxiliar de saída de nado costas (backstroke start device, em inglês) é uma novidade ainda em nível mundial que atinge todos os envolvidos na piscina: nadadores, técnicos e árbitros. No Brasil, ainda não houve nenhuma competição nacional com este equipamento.
A idéia era simples: era preciso achar algo para evitar que o nadador escorregasse na saída de costas, que acontece com atletas mirins a até atletas olímpicos, como ocorreu no vídeo abaixo com a campeã olímpica Elizabeth Beisel durante o campeonato americano em 2014:
O nadador “escorrega” porque ou a placa de toque – instalada na grande maioria de competições – ou a parede não é suficientemente áspera para dar ao nadador uma aderência perfeita no pé quando ele empurra a parede para avançar ao início da prova. Muitas vezes, o movimento do pé empurrando a parede não é horizontal, mas um pouco vertical porque o nadador além de se afastar o mais rápido possível da parede tem também que aproveitar para fazer aquele arco da saída de costas que lhe dá vantagem para executar o nado submerso. Isso causa a “escorregada”, porque o pé não estará totalmente apoiado na parede, mas parte dele e, para profissionais, quase só os dedos.
O dispositivo não pode ser instalado em qualquer bloco de partida. Ele é baseado em encaixe e entra no bloco de partida, cujo padrão mundial é baseado na Omega, empresa suíça que patrocina a FINA e o COI.
Ele é composto de 3 partes: o corpo que é encaixado no bloco de partida, a corda e uma espécie de tábua de plástico duro, com ranhuras.
O corpo é ainda dividido em:
- barra de apoio, é a parte mais superior do dispositivo, que nada mais é que uma barra para usar na remoção ou colocação do dispositivo no bloco de partida
- ajustador, é um disco numerado onde é preciso primeiro puxar para fora para poder ajustar o tamanho da corda, e como funciona com pressão baseada em mola, o disco volta à posição original. Este disco encaixa-se em um tubo dentado, evitando assim que a corda seja afrouxada acidentalmente (veja os detalhes do disco e do tubo dentado na imagem abaixo)
- o disco numerado indica quantos centímetros a tábua suspensa pelas cordas deve ficar acima ou abaixo do nível d’água. Em piscina de padrão mundial, como a Myrtha Pool, a posição 0 indica nível d’água, enquanto -1, -2 ou -4 indica abaixo do nível d’água, e +1, +2 ou +4 indica acima do nível d’água.
Vale notar que apesar de padrão, a própria Omega começou o desenvolvimento com um dispositivo que não tem o ajuste de altura da tábua, como a foto a seguir, e outros fabricantes também seguem este tipo por causa de custos de produção:
Se você tiver oportunidade e ver um dispositivo desse, peça para testá-lo, usá-lo e ajustá-lo.
O corpo do dispositivo da Omega não é pesado, tem cerca de 750 gramas. Já a tábua, pesa 1,2 kg e realmente precisa ser mais pesada para que não fique flutuando na água. Então para quem for manipulá-lo, não se trata de um peso que irá causar muito esforço para a pessoa que estiver mexendo nele.
E quem é essa pessoa?
Em campeonatos de nível nacional, o responsável para encaixar os dispositivos no bloco de partida é o juiz de virada. Em campeonatos internacionais, irá depender da estrutura da competição, mas é possível que o pessoal responsável pelo equipamento de cronometragem é que façam a instalação e remoção do dispositivo, embora em provas de revezamento medley é quase impossível de apenas 2 ou 4 pessoas removam todos os dispositivos do bloco para que o próximo atleta do revezamento faça uso do bloco de partida… Então naturalmente o juiz de virada é quem deve ser responsável pelo dispositivo.
Ao iniciar uma prova de costas, o árbitro instala o dispositivo no bloco, colocando o apoio dos pés (a parte ajustável no topo do bloco) na posição mais afastada. O sistema de encaixe é bem simples e ele se auto-trava devido ao ângulo de encaixe.
O que é repetido constantemente em reuniões de árbitro é a causa do maior problema com esse dispositivo: a forma que a corda tem que descer do dispositivo para a água.
Note que a corda desce por baixo, dessa forma se o atleta empurrar a tábua para baixo, o dispositivo também é empurrado para baixo, mas graças ao encaixe ele permanece fixo.
Se a corda descer por cima, quando o nadador empurrar a tábua para baixo, a corda puxará o dispositivo PARA FRENTE, o que causará o desencaixe dele do bloco de partida. Assim, o nadador além de “escorregar”, também poderá se machucar com o aparelho caindo n’água, o que já aconteceu em alguns campeonatos canadenses.
Após a partida, o árbitro irá completar sua função verificando a saída do nadador e quando terminar esta função, irá recolher a tábua da água, puxando um pouco a corda e pegando a tábua e colocando-a em cima do bloco, de forma que não atrapalhe o nadador, o árbitro e os cronometristas.
Ao término da prova, após o nadador se retirar da raia, a tábua é novamente colocada na água, respeitando-se a posição da corda (sempre com o rolamento por baixo) e ajustando o disco para a posição zero.
Vale notar que esse dispositivo é o padrão FINA/COI, mas existem outros já no mercado que usam diferentes mecanismos (que nós não testamos) como os exemplos abaixo:
Voltando à arbitragem, o que o árbitro deve ficar atento quando houver o uso desse tipo de equipamento:
- Alguma parte do pé do nadador deve tocar a parede ou placa de toque. O árbitro deve estar verificando os pés do atleta no momento da preparação para a saída. Se notar que algum pé está completamente apoiado na tábua, sem qualquer contato com a parede ou placa de toque, o nadador é desclassificado;
- Geralmente, o nadador é responsável pelo ajuste da altura do dispositivo. O árbitro ajuda se o nadador soliticar;
- É um item opcional. O nadador tem o direito de recusar o uso desse dispositivo;
- Se o dispositivo prejudicar o nadador na saída, ele tem direito de repetir a prova. No entanto, se ele escorregar mas não houver dispositivo instalado ou ainda ele escorregar mesmo com o dispositivo instalado (e ele não apresentou problema), o nadador não tem direito de repetir a prova – o que aliás é o normal numa piscina sem qualquer dispositivo;
- Com o uso do dispositivo, fica proibido o uso de toalhas para colocar em cima ou embaixo da placa de toque;
- O nadador, com ou sem esse dispositivo, pode ficar com o corpo completamente fora d’água. No entanto, a regra dos pés estarem ambos tocando a placa de toque ou parede deve ser respeitada.