quinta-feira, novembro 21, 2024
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A subjetividade do árbitro geral

O Campeonato Brasileiro Juvenil de Inverno foi realizado em Belém do Pará de 5 a 8 de junho, na piscina da Universidade Estadual do Pará. Uma curiosa montagem em vídeo mostrou que o bloco de partida da raia 3 estava com um problema na rampa ajustável traseira de apoio.

No vídeo, a primeira atleta que aparece, de maio preto e verde, foi desclassificada no fim da prova. Nos outros, a prova foi paralisada e ainda houve outras atletas que durante a saída também foram prejudicadas pelo desencaixe da rampa, mas que depois o árbitro geral permitiu que elas nadassem novamente.

O assunto saída já foi explanado aqui anteriormente, e recomendamos uma leitura:

https://www.regrasdenatacao.com.br/2012/04/17/a-saida-de-mergulho/

No caso dos atletas em Belém, o fator externo (a rampa que se desprendeu) acabou influindo para que o atleta cometesse uma infração (mexeu o corpo antes no momento da largada). Mas posteriormente o árbitro geral, prof. Jefferson Borges, membro do quadro de arbitragem da FINA, permitiu que o atleta tivesse o direito de refazer a prova.

Momento da largada onde é possível ver que a rampa desprende-se do bloco quando a atleta força o pé para trás, usando a parte superior da rampa

O julgamento do árbitro geral não é tão imediato, como ocorre numa marcação de pênalti num jogo de futebol por exemplo. Ele pode consultar outros árbitros para auxiliar em sua decisão. No entanto, a decisão de desclassificar a atleta baseia-se no fato de que não há nenhum artigo nas regras da FINA citando explicitamente sobre “atleta prejudicado por falha no bloco de partida”, então prevaleceu a regra abaixo:

SW 2.1.1 The referee shall have full control and authority over all officials, approve their assignments, and instruct them regarding all special features or regulations related to the competitions. He shall enforce all rules and decisions of FINA and shall decide all questions relating to the actual conduct of the meet, and event or the competition, the final settlement of which is not otherwise covered by the rules.

Segundo ela, o árbitro geral tem poder de decisão sobre os assuntos da prova ou da competição que não são citadas nas regras. A decisão para a primeira atleta foi desclassificar usando a regra SW 4.4 (“Any swimmer starting before the starting signal has been given, shall be disqualified.” – Qualquer nadador largando antes do sinal de largada ser dado, deve ser desclassificado), mas para outros, notando que o problema do bloco afeta, usou a regra SW 10.15 para permitir que o nadador tivesse uma outra chance de nadar em plenas condições (“Should a foul endanger the chance of success of a swimmer, the referee shall have the power to allow him to compete in the next heat or, should the foul occur in a final event or in the last heat, he/she may order it to be re-swum” – Quando uma falha prejudica a tentativa de sucesso do nadador, o árbitro geral tem o poder de permitir ele nadar novamente na próxima série ou se a prova for fina na próxima série – tradução livre minha).

A interpretação do árbitro geral é geralmente – e na grande maioria das vezes – direta, sempre baseada nas regras definidas. No entanto, em casos como esse, a interpretação passa a ser subjetiva e dependerá dos fatos que recolheu e observou, bem como em sua reflexão sobre o ocorrido.

Já houve casos, por exemplo, em que uma prova de 200m borboleta foi paralisada porque os guarda-sóis caíram na piscina levados pelo vento. A prova já estava nos 25m finais, mas o árbitro geral anulou a prova e comunicou os atletas de que era preciso realizar uma segunda prova.

Em Curitiba, há pouco mais de um mês, uma prova de 50m livre foi completamente nadada, mas a cronometragem eletrônica falhou, não registrando qualquer tempo. Os nadadores foram comunicados que deveriam realizar uma segunda prova posteriormente, pois nem todos os cronômetros – a cronometragem complementar – funcionaram.

No extinto Troféu Fausto Alonso, ocorreu uma vez de um cachorro (!!!) pular na piscina durante uma prova, numa raia de canto. Uma pessoa caiu n’água com a prova em andamento, pegou o cachorro e retirou-o da piscina. A prova não teve de ser nadada novamente pois não havia atrapalhado nenhum atleta diretamente.

Num Troféu Brasil, um atleta arrancou o bloco de partida do lado oposto da piscina (era uma prova de 50m livre) – que estava fixado no chão com 4 parafusos fracos – quando iniciou a sua largada. Pelo que me recorde, foi dada nova chance ao atleta para nadar novamente, mas ele recusou. Aqui, o tempo oficial ficaria registrado como o tempo obtido na prova “arrancando o bloco”, e ele não foi desclassificado porque sua largada foi depois do “tiro”. Mas se ele optasse por nadar novamente, o tempo “arrancando o bloco” deveria ser descartado, independente se o novo tempo foi melhor ou pior do anterior.

A subjetividade num julgamento aumenta o uso de críticas passionais a um árbitro. A ponderação é uma virtude difícil de ser controlada em um ambiente passional, mas independente da decisão, foi uma decisão do árbitro geral, que tem o controle absoluto da competição, de acordo com as regras.

Árbitro de Nataçãohttp://www.regrasdenatacao.com.br/
Olá, eu sou o árbitro de natação e adoro discutir sobre regras de natação. Leia, releia, discuta e conheça as regras que movimentam o nosso esporte.
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1 COMENTÁRIO

  1. não sei mas a atleta júlia nos 100m borboleta o árbitro deu uma nova chance a ela? pois em outros casos ele comprovou que o bloco estava com dificuldades e deu nova chance. se isso é verdade porque não ter dado nova chance a júlia? isso foi extremamente injusto com a atleta. se a cbda tinha o recurso do vídeo porque não olhar? já que vídeos sem serem da cbda não são permitidos. falta de coerência isso. por isso que depois as pessoas abrem o verbo e querem falar que não se pode abrir o verbo e etc. Injustiça!

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