O nado de peito é o assunto mais tratado em cursos de arbitragem e até mesmo em discussões de árbitros numa competição.
O assunto “golfinhada no nado de peito” tomou proporções globais com as exibições submersas do japonês bicampeão olímpico Kosuke Kitajima, em sua apresentação na Olimpíada de Atenas em 2004:
A golfinhada, só vista pela câmera submersa, é sem dúvida ilegal, mas na época não constava nada explícito na regra da Fina. Americanos protestaram, mas não adiantou. O uso de imagens para julgamento ainda é, até hoje, restrito para Olimpíadas e Mundiais e apenas para julgamento de chegada, em caso de falha na cronometragem eletrônica. Imagens submersas então, ainda pode demorar mais ainda, visto que a estrutura é maior e deve haver câmera submersa controlada remotamente nas 8 ou 10 raias!
De 2004 para 2012, passamos por outras polêmicas, incluindo o próprio Kitajima em 2008, mas agora mais “protegido” pelas regras, onde atualizou-se o item 7.1:
SW 7.1 After the start and after each turn, the swimmer may take one arm stroke completely back to the legs during which the swimmer may be submerged. A single butterfly kick is permitted during the first arm stroke, followed by a breaststroke kick.
Traduzindo livremente (lembre-se que o que vale é a regra escrita em inglês), “depois da saída e após cada virada, o nadador pode fazer uma puxada de braços completa até às pernas submerso. Uma golfinhada é permitida durante a primeira puxada de braços, seguida de uma pernada de peito”.
Complementando a definição “first arm stroke”, a Fina ainda exibe em sua regra:
The first arm stroke begins with the separation of the hands.
É bem difícil de julgar a separação das mãos do ponto de vista do árbitro, já que ele tem que prestar atenção nas pernas e na mão, o que humanamente é bem difícil. Mas ao menos existe a explicação-definição, o que ajuda o árbitro geral no julgamento de qualquer desclassificação.
Problema resolvido?
Não. Na verdade parece ter piorado.
Ao se permitir uma golfinhada, diversos nadadores começaram a abusar tanto na extensão dessa golfinhada quanto na quantidade. Um deles é o brasileiro Felipe França, que inclusive foi alvo de irregularidade no Campeonato Mundial de Xangai, em 2011, por causa de um movimento que lembra uma golfinhada na chegada, e que no fim das contas não pode ser considerado irregular o movimento. Confira os vídeos feitos na época:
Este mês, durante o Troféu Maria Lenk, no Rio de Janeiro, na final dos 100m peito, foi flagrado com a câmera submersa um abuso por parte do atleta da raia 8, Tales Cerdeira:
O nadador, bem como o outro atleta da raia 7, deveriam ser desclassificados, mas não foram.
A explicação para isso é que durante o mergulho da saída, a entrada do nadador na água causa as bolhas de ar, transformando a área em que ele fica mais opaca do que transparente, inviabilizando qualquer visualização clara por parte do árbitro que está julgando a saída, de pé na cabeceira da piscina.
Essa “cortina” temporária permitiu então que técnicos e atletas começassem a usar esse blecaute para realizar golfinhadas durante esse breve momento, ganhando centésimos preciosos. É um jeitinho brasileiro, iniciado por Felipe França, com grande risco e que tem que ser muito bem treinado.
Mas, para a arbitragem, tanto a golfinhada com grande amplitude realizada sem qualquer movimento dos braços quando as golfinhadas realizadas no momento da entrada na água, são irregulares.
No entanto, o árbitro deve ter certeza sobre o movimento. Em caso de dúvida, a vantagem é do nadador.